Friday, May 23, 2008

Eva

Aos desafetos, aos políticos, aos inconvenientes... dizem-nos filhos da puta. Sinto-me, então, mãe de todas as nações, a escolhida de Deus para povoar o mundo. Sou o seio materno, a iniciação dos quadris no jogo do amor, a dança frenética da vida.

Não rejeito filho algum. Recebo os altos e baixos, magros e gordos, pobres e ricos, feios e bonitos. Amo a todos do mesmo modo, sem distinção.

Amo desorganizada; não planejo datas - as planejam por mim. Minha cama é vítima do acaso. Minhas mãos se rendem aos casos e às situações. Meu amor é (de) sentido(s), mas também é direção. Meu amor é crime e castigo. É pecado.

O quarto inteiro peca comigo. O colchão é meu cúmplice; não me julga, embora a cama às vezes deixe escapar ruídos de reclamação. O guarda-roupa me imita e se abre pra mim toda manhã. Tom Waits me assiste do alto da pilha de CDs. O livro da cabeceira sussurra palavras bonitas ao meu ouvido.

E aí imagino que sou amada com a mesma intensidade com que amo. Mas o alto e o baixo, o magro e o gordo, o pobre e o rico, o feio e o bonito... Todos saem pela mesma porta. Dizem que a gente cria os filhos para o mundo e - cedo ou tarde - eles nos deixam sós.

Ainda assim, amo cada um com seu modo peculiar. Tenho o quarto como testemunha - não há no mundo coisa maior que amor de mãe.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

è uma bela mulher

10:00 PM  

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