Tuesday, May 08, 2012

O bastardo


Eu sou um texto antigo na sua gaveta. Eu sou a frase mal feita, a ideia torta. Eu sou seu lado feio, sua bagunça mental, sua desorganização. Eu sou o parágrafo solto que nunca foi adiante. Eu sou o começo sem fim, a gravidez interrompida. Eu sou aquilo que você não ousa confessar. Sou sua literatura mais pobre, sua escrita mais chula. Não sou bonito, tampouco agradável. Sou a cara à tapa depois da tapa. Suas linhas mais simpáticas perdem o brilho diante de mim. Você me esconde. Morre de medo que alguém me veja. Eu sou o que há de pior em você. Sou sua falta de senso. Seu senso de humor invertido. Sua falta de graça. Seu deboche e seu escárnio. Eu sou o seu peso sobre a folha quando desaba sem sentido. Sou seu grito mais louco. Não nasci para caber em métrica nem fazer suspirar. Não espero elogios nem carinho especial.

Eu sou a angústia de um filho. Você me pariu, mas tem vergonha de mim.

2 Comments:

Blogger Igor Barboà... said...

Nossa esse teu texto me lembrou um poema antigo, acho que vai gostar:


"O queM sou eu ?"

http://eus-sinestesia.blogspot.com.br/2010/02/eu-sou-virgem-do-sacrificio-sou-as.html

8:35 AM  
Blogger Melina França said...

Gostei do intercâmbio e dessa frase em especial: "Sou o teu brinquedo novo que deu defeito".

Abraço

10:37 AM  

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