Wednesday, May 30, 2012

O corpo dela - performance


Andava nua no meio da rua. Estrias e gordurinhas à mostra. Seguia descalça. O corpo era seu. A nudez era sua. Os olhares de choque ou horror - alguns até de desejo - não lhe pertenciam. Desde quando um corpo nos é alheio? Desde quando um corpo - qualquer corpo - nos é estranho? Sem atentado ao pudor. Não tinha motivação sexual ou exibicionista. O corpo que tinha, mostrava como quem mostra os caninos ao sorrir. Não era desejável. Era real, apenas. Era possível. E desfilava sua possibilidade sem vergonha. Um corpo não é obsceno. A ausência do corpo - esta sim - deveria chocar.

Desafiando a falta de senso dos outros. Parou na banca da esquina. Comprou o jornal de domingo. E seguiu. Um corpo na rua a passeio. O corpo que tinha. Não. O corpo que era ela.

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