Tuesday, July 10, 2012

Na tua pele


Na tua pele, som de mar. Das cores, ficou o amarelo - a música gasta dos nossos dias. Mas não fala mais de amor, menino, que meus pés andam sem chão. Me fiz vontade de céu. Um azul sem teu riso. Fica uma alegria antiga. Ou uma lembrança perdida numa tarde qualquer, passeando pela cidade. Fica o passado, mas que ousemos viver no presente. Que este - o agora - seja um lugar bonito. Com as marcas que escolhemos, sim. Nossas próprias cicatrizes - coloridas ou não, à mostra ou nem sempre. Para cada cor, uma dor. Que nos reste, enfim, a delicadeza ao olhar para trás, a generosidade para com nossas histórias.

Para certas coisas não há borracha. Escolhemos mantê-las nos pés ou nos braços. Às vezes menos, n'outras mais, mas é sempre uma ousadia. Perdoa, então, se minh'alma chucra não sabe ver beleza. Não quero ser aquela que desdenha, ainda que seja. Aquela que exige uma explicação, porque não se faz nada assim sem propósito. E isso me assusta. Talvez só mesmo os fortes entendam. Não temos a eternidade, nunca tivemos. Onde nos enganaram? Como nos enganamos tanto? Todo romance nasce pra ser o último. E só acontece enquanto estamos distraídos. Distrai-te. Vencemos como em Leminski, embora não. "A cor mais alegre. A cor mais triste [...que vestes]. O dia em que eu te vi. O dia em que me viste".

De onde veio essa mania de amar o difícil? Quando o desejo será daquilo que temos nas mãos? Daquilo que podemos ter? No meu céu, imprimi um arco-íris. Quem sabe alguém goste. Quem sabe alguém surja. E mesmo não gostando, mesmo não surgindo - o futuro me sorri, por mais incerto. O futuro que não comporta desenho. O futuro que precisamos escrever sem pressa e sem saudade. Então guarda a cor, guarda a pele, guarda a música, tudo bem. Mas não esquece: estamos além. Pega a vida com as mãos. E põe-te a colorir.

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